quarta-feira, 27 de junho de 2007
A Confissão de Albert Speer
Quem foi o alemão Albert Speer?
Berthold Konrad Hermann Albert Speer (Mannheim, 19 de março de 1905 — Londres, 1º de setembro de 1981) foi o arquiteto-chefe do Terceiro Reich e, a partir de 1942, Ministro do Armamento no Gabinete de Adolf Hitler. Depois da guerra foi julgado no Tribunal de Nuremberg, onde expressou arrependimento e foi condenado a vinte anos de prisão. Depois de libertado tornou-se um autor de sucesso, escrevendo vários livros semi-biográficos.
Numa declaração, jurada e assinada em Munique no dia 15 de Junho de 1977, Albert Speer, depôs como se segue:
“O ódio aos judeus era o motor e o ponto central de Hitler, talvez até o elemento mais motivador. O povo alemão, a grandeza alemã, o Império, todos eles não significavam nada para ele em última análise. Por esta razão, ele desejava no seu testamento final, fixar para nós alemães, até depois da queda apocalíptica um miserável ódio aos judeus.Eu estava presente na sessão do Reichstag (Parlamento Alemão) de 30 de Janeiro de 1939, quando Hitler nos assegurou que em caso de guerra, não os alemães, mas os judeus seriam aniquilados. Esta sentença foi pronunciada com tal certeza que eu não senti permissão de questionar a sua intenção de levar isso adiante. Ele repetiu este aviso, de suas intenções, em 30 de Janeiro de 1942, num discurso que também conheço: "A guerra não terminará, como os judeus imaginariam, pela extinção dos povos arianos europeus, e sim que isso resultaria na aniquilação dos judeus". Esta repetição das suas palavras de 30 de Janeiro de 1939 não era a única. Ele recordaria com frequência a sua intenção. Quando o discurso das vítimas dos bombardeios, particularmente depois dos ataques massivos a Hamburgo no Verão de 1943, ele reiterou diversas vezes que se vingaria dessas vítimas sobre os judeus; apenas como se o terror-aéreo contra a população civil simplesmente o satisfizesse daquilo no qual tratou como uma motivação substituta tardia para um crime decidido bem antes e emancipado sob diferentes camadas de sua personalidade. Apenas como se ele procurasse justificar seus próprios assassinatos em massa com essas observações.
Sempre e quando Hitler tinha surtos de ódio, restava a esperança numa mudança para direcções mais moderadas. No entanto, era a firmeza e a frieza que faziam que os seus rompantes contra os judeus convencessem. Em outras áreas quando ele anunciava decisões terríveis com uma voz fria e calma, aqueles ao redor dele, e eu mesmo sabíamos que as coisas haviam se tornado sérias (irreversíveis). E com apenas esta superioridade fria ele declarava também, quando almoçávamos ocasionalmente juntos, que ele havia decidido a destruição dos judeus da Europa.No verão de 1944, o líder distrital da Baixa Silésia, Karl Hanke, fez-me uma visita. Hanke havia se distinguido por seu valor nas campanhas polaca e francesa. Ele não era certamente uma pessoa de se assustar facilmente. No entanto era um momento particular, quando, naquela época, ele me contou de uma maneira chocante, que coisas monstruosas estavam acontecendo em campos de concentração no distrito vizinho, Alta Silésia. Ele disse que estava lá e nunca seria capaz de esquecer as atrocidades que tinha presenciado ali. Obviamente, ele não mencionou qualquer nome, mas ele quis mencionar Auschwitz, na Alta Silésia. Da agitação deste soldado de batalha experiente, eu pude concluir que algo não declarado se sucedia ali, e que só isso podia fazer este velho líder do partido de Hitler perder a sua calma.O método de trabalho de Hitler era que ele dava inclusive ordens importantes aos seus confidentes verbalmente. Também nas gravações das minhas entrevistas com Hitler completamente preservados no Arquivo Federal Alemão (German Federal Archives) - havia numerosas ordens até em importantes áreas aos quais Hitler claramente deu por palavra oral apenas. No entanto isso se conforma com seu método de trabalho e não deve ser encarado como um descuido, de que não existe uma ordem escrita para o extermínio de judeus.
Aqueles judeus internados nos campos de extermínio que foram assassinados como provou o Tribunal (IMT), por testemunhos e documentação, e de facto o feito não é seriamente contestado por qualquer dos acusados. O discurso de Himmler perante os líderes das SS, de 4 de Outubro de 1943, ao qual claramente ilustraram os êxitos nos campos de extermínio, não foram desacreditados como falsificados pela defesa, como sucedeu com o Protocolo Hossbach. Frank nunca disputou a genuinidade de seu diário, que ele entregou aos americanos na ocasião de sua detenção. O diário contém observações provando que os judeus que estavam na Polónia, à excepção de de 100 mil, foram aniquilados. O acusado também aceitou aquelas declarações de Frank e a crítica foi limitada à estupidez da entrega deste diário de incriminação aos oponentes.Schirach confirmou numa conversa confidencial, já durante o julgamento, que ele estava presente no discurso que Himmler deu aos líderes de distrito em Posen (em 6 de Outubro de 1943), no qual Himmler clara e inequivocamente anunciou que a matança projectada dos judeus havia sido realizada em grande parte. Ele retornou a este tema, que pesou em sua mente também durante seu encarceramento em Spandau.Na sua alegação final no Tribunal, Goering falou dos sérios crimes os quais haviam sido revelados durante o julgamento e condenou as atrocidades dos assassinatos em massa que segundo ele escapava à sua compreensão. Streicher também condenou os assassinatos em massa de judeus na sua alegação final. Para Fritzche, também em seu pronunciamento final, o assassinato de cinco milhões era um terrível alerta para o futuro. Estas palavras do acusado vieram ao encontro da minha opinião que no Julgamento de Nuremberg tanto os acusados como também a defesa reconheceram como facto que assassinatos em massa de judeus haviam ocorrido.
Todavia o Julgamento de Nuremberg para mim hoje está como uma tentativa de construir um mundo melhor. Todavia reconheço hoje como genericamente correctas as razões de minha sentença pelo Tribunal Militar Internacional. Por outra parte, ainda hoje considero como justo aquilo que assumi, a responsabilidade pelo crime e assim a culpa por tudo aquilo foi perpetrado daquela forma, depois da minha estrada no Governo de Hitler em 8 de Fevereiro de 1942. Não os erros individuais, sepulcro como eles podem ser, pois estão carregando a minha consciência, mas a minha actuação na direcção. No Julgamento de Nuremberg, confessei a responsabilidade colectiva e mantenho-a até hoje. Todavia vejo que minha culpa principal reside na minha aprovação da perseguição dos judeus e do assassinato de milhões deles.”
(assinado) ALBERT SPEER
Munique, 15 de Junho, 1977
Obs: tradução de Carlos Roberto Lucena
Fonte: Suzman, Arthur e Denis Diamond. 'Six million Did Die' (Seis milhões Morreram). Johannesburg, 1978.
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