sábado, 30 de junho de 2007

O STF e o racismo: o caso do propagandista negacionista Siegfried Ellwanger







O Supremo Tribunal Federal encerrou um dos julgamentos mais importantes e polêmicos da sua história. Por 8 votos a 3, os ministros do STF concluíram que a propagação de idéias discriminatórias ao povo judeu é crime de racismo, negando o pedido de habeas corpus e mantendo a condenação dada pelo Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul ao editor “revisionista” Siegfried Ellwanger por divulgar livros de conteúdo anti-semita.

Práticas discriminatórias, inspiradas no racismo, estão lamentavelmente na ordem do dia. Para a discussão jurídica dessa problemática, o Supremo Tribunal Federal deu inestimável contribuição ao decidir o caso Ellwanger, vulgo S.E. Castan.

Este vinha, no correr dos anos, dedicando-se de maneira sistemática e deliberada a publicar livros notoriamente anti-semitas, como os Protocolos dos Sábios de Sião, e a denegar o fato histórico do Holocausto, como autor de livros notóriamente neonazistas, entre eles: “Holocausto - judeu ou alemão? Nos bastidores da mentira do século”.

Todos os seres humanos podem ser vítimas da prática do racismo. Daí o alcance geral da decisão do STF, explicitada na ementa do acórdão: "A divisão dos seres humanos em raças resulta de um processo de conteúdo meramente político-social. Deste pressuposto origina-se o racismo, que, por sua vez, gera a discriminação e o preconceito segregacionista".

Disso deflui a orientação fixada pelo STF no caso concreto: anti-semitismo é racismo, e Ellwanger está sujeito às sanções penais contempladas pelo direito brasileiro, pois "a edição e publicação de obras escritas veiculando idéias anti-semitas, que buscam resgatar e dar credibilidade à concepção racial definida pelo regime nazista, negadoras e subversoras de fatos históricos incontroversos como o Holocausto, consubstanciadas na pretensa inferioridade e desqualificação do povo judeu, equivalem à incitação ao discrímen com acentuado conteúdo racista, reforçadas pelas conseqüências históricas dos atos em que se baseiam".

quinta-feira, 28 de junho de 2007

O HOLOCAUSTO DOCUMENTADO






Além dos milhares de testemunhos registrados (de sobreviventes, de testemunhas e dos próprios criminosos) nos julgamentos de Nuremberg, Frankfurt e Cracóvia, ou de Eichmann (em Jerusalém) e Klaus Barbie (em Lyon) de outros criminosos nazistas e colaboracionistas, que se constituem em provas diretas, há a documentação administrativa do período, tanto na própria Alemanha, como nos países que estiveram sob a ocupação nazista ou eram aliados de Hitler.

Arquivos da Polônia, da ex-União Soviética (ainda em fase de exploração e pesquisa), Holanda, França, os países nórdicos, Grécia e os países do Leste Europeu, como Hungria, Romênia, Iugoslávia e Tchecoeslováquia constituem as principais fontes documentais do extermínio.

Os maiores centros de documentação sobre o Holocausto são o Yad Vashem (Jersusalém), o CDJC (Centre de Documentation Juive Contemporaine, Paris), a Wiener Library (Londres), ao Rijksinstituut voor Oologsdocumentatie (Amsterdã) e o Zydowski Instytut Historyczny (Varsóvia).

Veja o site da Fundacion Memoria Del Holocausto
http://www.fmh.org.ar/holocausto/index.htm

quarta-feira, 27 de junho de 2007

A Confissão de Albert Speer






Quem foi o alemão Albert Speer?

Berthold Konrad Hermann Albert Speer (Mannheim, 19 de março de 1905 — Londres, 1º de setembro de 1981) foi o arquiteto-chefe do Terceiro Reich e, a partir de 1942, Ministro do Armamento no Gabinete de Adolf Hitler. Depois da guerra foi julgado no Tribunal de Nuremberg, onde expressou arrependimento e foi condenado a vinte anos de prisão. Depois de libertado tornou-se um autor de sucesso, escrevendo vários livros semi-biográficos.

Numa declaração, jurada e assinada em Munique no dia 15 de Junho de 1977, Albert Speer, depôs como se segue:


“O ódio aos judeus era o motor e o ponto central de Hitler, talvez até o elemento mais motivador. O povo alemão, a grandeza alemã, o Império, todos eles não significavam nada para ele em última análise. Por esta razão, ele desejava no seu testamento final, fixar para nós alemães, até depois da queda apocalíptica um miserável ódio aos judeus.Eu estava presente na sessão do Reichstag (Parlamento Alemão) de 30 de Janeiro de 1939, quando Hitler nos assegurou que em caso de guerra, não os alemães, mas os judeus seriam aniquilados. Esta sentença foi pronunciada com tal certeza que eu não senti permissão de questionar a sua intenção de levar isso adiante. Ele repetiu este aviso, de suas intenções, em 30 de Janeiro de 1942, num discurso que também conheço: "A guerra não terminará, como os judeus imaginariam, pela extinção dos povos arianos europeus, e sim que isso resultaria na aniquilação dos judeus". Esta repetição das suas palavras de 30 de Janeiro de 1939 não era a única. Ele recordaria com frequência a sua intenção. Quando o discurso das vítimas dos bombardeios, particularmente depois dos ataques massivos a Hamburgo no Verão de 1943, ele reiterou diversas vezes que se vingaria dessas vítimas sobre os judeus; apenas como se o terror-aéreo contra a população civil simplesmente o satisfizesse daquilo no qual tratou como uma motivação substituta tardia para um crime decidido bem antes e emancipado sob diferentes camadas de sua personalidade. Apenas como se ele procurasse justificar seus próprios assassinatos em massa com essas observações.

Sempre e quando Hitler tinha surtos de ódio, restava a esperança numa mudança para direcções mais moderadas. No entanto, era a firmeza e a frieza que faziam que os seus rompantes contra os judeus convencessem. Em outras áreas quando ele anunciava decisões terríveis com uma voz fria e calma, aqueles ao redor dele, e eu mesmo sabíamos que as coisas haviam se tornado sérias (irreversíveis). E com apenas esta superioridade fria ele declarava também, quando almoçávamos ocasionalmente juntos, que ele havia decidido a destruição dos judeus da Europa.No verão de 1944, o líder distrital da Baixa Silésia, Karl Hanke, fez-me uma visita. Hanke havia se distinguido por seu valor nas campanhas polaca e francesa. Ele não era certamente uma pessoa de se assustar facilmente. No entanto era um momento particular, quando, naquela época, ele me contou de uma maneira chocante, que coisas monstruosas estavam acontecendo em campos de concentração no distrito vizinho, Alta Silésia. Ele disse que estava lá e nunca seria capaz de esquecer as atrocidades que tinha presenciado ali. Obviamente, ele não mencionou qualquer nome, mas ele quis mencionar Auschwitz, na Alta Silésia. Da agitação deste soldado de batalha experiente, eu pude concluir que algo não declarado se sucedia ali, e que só isso podia fazer este velho líder do partido de Hitler perder a sua calma.O método de trabalho de Hitler era que ele dava inclusive ordens importantes aos seus confidentes verbalmente. Também nas gravações das minhas entrevistas com Hitler completamente preservados no Arquivo Federal Alemão (German Federal Archives) - havia numerosas ordens até em importantes áreas aos quais Hitler claramente deu por palavra oral apenas. No entanto isso se conforma com seu método de trabalho e não deve ser encarado como um descuido, de que não existe uma ordem escrita para o extermínio de judeus.

Aqueles judeus internados nos campos de extermínio que foram assassinados como provou o Tribunal (IMT), por testemunhos e documentação, e de facto o feito não é seriamente contestado por qualquer dos acusados. O discurso de Himmler perante os líderes das SS, de 4 de Outubro de 1943, ao qual claramente ilustraram os êxitos nos campos de extermínio, não foram desacreditados como falsificados pela defesa, como sucedeu com o Protocolo Hossbach. Frank nunca disputou a genuinidade de seu diário, que ele entregou aos americanos na ocasião de sua detenção. O diário contém observações provando que os judeus que estavam na Polónia, à excepção de de 100 mil, foram aniquilados. O acusado também aceitou aquelas declarações de Frank e a crítica foi limitada à estupidez da entrega deste diário de incriminação aos oponentes.Schirach confirmou numa conversa confidencial, já durante o julgamento, que ele estava presente no discurso que Himmler deu aos líderes de distrito em Posen (em 6 de Outubro de 1943), no qual Himmler clara e inequivocamente anunciou que a matança projectada dos judeus havia sido realizada em grande parte. Ele retornou a este tema, que pesou em sua mente também durante seu encarceramento em Spandau.Na sua alegação final no Tribunal, Goering falou dos sérios crimes os quais haviam sido revelados durante o julgamento e condenou as atrocidades dos assassinatos em massa que segundo ele escapava à sua compreensão. Streicher também condenou os assassinatos em massa de judeus na sua alegação final. Para Fritzche, também em seu pronunciamento final, o assassinato de cinco milhões era um terrível alerta para o futuro. Estas palavras do acusado vieram ao encontro da minha opinião que no Julgamento de Nuremberg tanto os acusados como também a defesa reconheceram como facto que assassinatos em massa de judeus haviam ocorrido.

Todavia o Julgamento de Nuremberg para mim hoje está como uma tentativa de construir um mundo melhor. Todavia reconheço hoje como genericamente correctas as razões de minha sentença pelo Tribunal Militar Internacional. Por outra parte, ainda hoje considero como justo aquilo que assumi, a responsabilidade pelo crime e assim a culpa por tudo aquilo foi perpetrado daquela forma, depois da minha estrada no Governo de Hitler em 8 de Fevereiro de 1942. Não os erros individuais, sepulcro como eles podem ser, pois estão carregando a minha consciência, mas a minha actuação na direcção. No Julgamento de Nuremberg, confessei a responsabilidade colectiva e mantenho-a até hoje. Todavia vejo que minha culpa principal reside na minha aprovação da perseguição dos judeus e do assassinato de milhões deles.”

(assinado) ALBERT SPEER

Munique, 15 de Junho, 1977

Obs: tradução de Carlos Roberto Lucena
Fonte: Suzman, Arthur e Denis Diamond. 'Six million Did Die' (Seis milhões Morreram). Johannesburg, 1978.


terça-feira, 26 de junho de 2007

Simon Wiesenthal e os criminosos nazistas






Simon Wiesenthal era, acima de tudo, um sobrevivente. Nascido na Galícia, entre a Áustria e a Hungria, no antigo Império Austro-Húngaro, Wiesenthal, órfão de um soldado do exército austríaco morto na Primeira Guerra, foi preso em 1941 durante a ocupação da Polônia pelos nazistas. Após ter passado por 12 campos de concentração, ele foi libertado por soldados norte-americanos de Mauthausen, de onde o prisioneiro de 1,80 metro de altura saiu com 45 quilos. Segundo ele conta em suas memórias, sua força para sobreviver veio da decisão de cobrar a punição dos responsáveis pelo Holocausto. Esta tarefa, cumprida durante toda a sua vida, tornou-o alvo de diversos atentados e ameaças de morte.

Perseguição de boca em boca – A missão de Wiesenthal começou com uma lista de 91 nomes de criminosos de que ele próprio tinha conhecimento. E continuou com a busca de mais informações sobre as atrocidades nazistas entre os sobreviventes de campos de concentração espalhados por acampamentos na Áustria, Alemanha e Itália logo após a guerra. Wiesenthal foi o primeiro a aplicar sistematicamente o método da História Oral na historiografia da Shoah, além de ter fundado um centro judaico de documentação histórica. Wiesenthal afirmava ter contribuído para a investigação de seis mil casos e para a punição de 1100 criminosos nazistas.

Algozes na América do Sul - Os casos mais espetaculares de localização de criminosos nazistas através de pistas de Wiesenthal ocorreram na América do Sul. Adolf Eichmann, organizador do genocídio contra os judeus e responsável pela deportação de mais de três milhões de vítimas para campos de extermínio, fugiu da prisão norte-americana em 1946 e desapareceu na Argentina, até agentes secretos israelenses o seqüestrarem e submetê-lo a julgamento em Tel Aviv, onde foi condenado à morte e executado. Klaus Barbie, o "carniceiro de Lyon", chefe da Gestapo local, foi localizado na Bolívia, levado para a França em 1983 e condenado a prisão perpétua, onde morreu em 1991.

Encontrados no Brasil – Franz Stangl, comandante do campo de extermínio de Treblinka, que conseguira fugir da prisão austríaca em 1948, escapando pela Itália até a Síria, foi localizado por Wiesenthal em São Paulo, de onde foi deportado para a Alemanha em 1967. Stangl, culpado pelo extermínio em massa de pelo menos 400 mil pessoas, morreu cumprindo a pena de prisão perpétua. Um dos maiores alvos de Wiesenthal foi Josef Mengele, médico do campo de extermínio de Auschwitz e culpado por atrozes práticas de experimentos médicos com prisioneiros. O "anjo da morte" desapareceu depois da guerra e conseguiu fugir para a Argentina via Itália. Mengele foi localizado depois de morto no Brasil, após exumação do corpo. Wiesenthal considerava "o pior fracasso da sua vida" não ter conseguido prender Mengele em vida.

Vaticano entre os culpados – Mas os casos espetaculares do "caçador de nazistas" não são tudo. As pesquisas dos trajetos de fuga dos criminosos nazistas levaram Wiesenthal a descobrir a ligação da organização nazista Odessa com o Vaticano. Suas reiteradas acusações de anti-semitismo e suas denúncias contra a participação de ex-nazistas nos governos em Viena colaboraram para um processo de reflexão sobre a conivência dos austríacos com o Holocausto.

Última chance de justiça – Wiesenthal sobreviveu aos principais criminosos nazistas. Vítimas e criminosos de uma mesma geração estão para desaparecer. Mas isso não significa que a busca dos últimos culpados nazistas tenha se encerrado. No ano passado, o Centro Simon Wiesenthal, fundado em 1977 em Los Angeles e representado em diversas cidades do mundo, lançou a campanha Operação Última Chance, uma nova busca de criminosos nazistas.

www.chabad.org.br/.../Wiesenthal/home.html

segunda-feira, 25 de junho de 2007

Günter Grass, afirmou que teve vergonha de servir na SS




O escritor alemão Günter Grass, que recebeu um prêmio Nobel de Literatura em 1999, admitiu que integrou a força de elite de Hitler, Waffen-SS, durante a Segunda Guerra Mundial.

Ao jornal alemão Frankfurter Allgemeine, Grass disse que foi convocado para servir na Waffen-SS em 1945, quando tinha 17 anos de idade, e a única coisa em sua mente era como escapar.

O autor afirmou que tem vergonha de ter pertencido à SS e o segredo da guerra pesou em sua consciência.Grass, um ativista de esquerda proeminente, ficou famoso com seu primeiro romance, O Tambor.

O seu trabalho costuma mostrar experiências de guerra e a tentativa da Alemanha de lidar com o seu passado.

Quando lhe perguntaram em uma entrevista porque não falara do fato antes, sua resposta foi mais do que simples: porque o fazia sofrer. Sofria pelo fato de quando adolescente tivera que servir, ainda que fosse de maneira fugaz, no aparelho de guerra do nazismo. O nazismo contra o qual alçou sua voz, ao longo de toda sua vida.

O Tambor, obra polêmica do Prêmio Nobel de Literatura, foi considerado por muitos o melhor romance sobre o dilaceramento do mundo alemão no pós-guerra. O herói é um anão que, sob as aparências da infância, tem a maturidade de um adulto. Ao tocar seu tambor, ele ressuscita suas lembranças, as de sua família e de seu país, agitando um universo grotesco e misterioso cuja lógica não é deste mundo.

http://www.dw-world.de/dw/article/0,2144,1648294,00.html

quinta-feira, 21 de junho de 2007

O Almirante Karl Doenitz, julgado e preso por dez anos





O almirante Karl Doenitz, apontado por Hitler como seu sucessor e alcunhado Führer de Flensburg, foi preso em 23 de maio na própria Flensburg, ao lado de outros membros de seu comando.

Um dos réus mais visados no Tribunal de Nuremberg, foi o almirante Karl Doenitz, por ter sucedido oficialmente a Hitler e negociado a rendição incondicional da Alemanha nazista. Ele se defendeu dizendo que toda a culpa deveria recair não sobre os militares, mas sobre os políticos que levaram o nazismo ao poder e iniciaram a guerra. A acusação, entretanto, mostrou documentos referentes à chamada "Ordem Lacônia", de 1942, na qual Doenitz proibiu qualquer socorro aos náufragos de embarcações aliadas atingidas, argumentando que o inimigo não se importava com as mulheres e crianças alemãs nas cidades que bombardeava. A exemplo de quase todos os demais réus, Doenitz afirmou que ignorava a existência dos campos de extermínio. Admitiu que, por volta de 1938, soube de algumas perseguições contra os judeus, "mas estava muito ocupado com problemas navais para me preocupar com os judeus". Foi condenado a dez anos de prisão, vindo a morrer em 1980.

Palavras do almirante Karl Doenitz sobre Hitler:

"Que teria sido da nossa pátria se o Führer não nos tivesse unido no nacional-socialismo? Dividida pelos partidos, desmembrada pelo veneno corrosivo do judaismo... há muito teríamos caído nas mãos do inimigo..." ( 12 de março de 1944, aos 600 mil homens da Marinha de guerra nazista)

http://www.dec.ufcg.edu.br/biografias/KarlDoen.html

Quem foram os autores dos torpedeamentos dos navios brasileiros?



Foram os alemães(nazistas)ou os norte-americanos, os autores dos ataques aos navios brasileiros?

Cabe antes dizer que infelizmente, apesar da crônica preguiça que a maioria dos internautas tem pela leitura, o estudo abaixo(link) é muito interessante.

Não se prende a achismos. Cita datas, nomes e fatos históricos: "dá nomes aos bois".

Menciona que a partir dos primeiros ataques aos navios brasileiros no Atlântico Norte, o Brasil veio portar-se então de maneira beligerante ao Eixo. Entrava-se na lei da ação e reação!

Mas o mais importante, referenciando a autobiografia do almirante nazista Karl Doenitz - chefe da Força de Submarinos da Alemanha nazista - este reconhece que os submarinos do Eixo realmente atacaram todos os navios da Marinha Mercante brasileira na Segunda Guerra Mundial.

De forma que para os amantes daquela velha teoria conspiratória de que teriam sido os norte-mericanos: É um tiro de misericórdia.

Diz então o autor do referido estudo:

“ Finalmente, cabe dizer que o estudo acima também tem o objetivo de esclarecer uma absurda dúvida histórica que vem de boatos já surgidos ainda em tempos de guerra e que já transformado em um mito, obviamente sobrevive até hoje, ou seja, a de que a responsabilidade pelos ataques aos navios nacionais é imputada aos submarinos norte- americanos. Na década de 60 do século passado, alguns historiadores brasileiros chegaram a afirmar que os torpedeamentos de agosto de 1942 foram feitos pelos militares de Roosevelt, sustentando-se no fato de que os Estados Unidos pretendia obrigar Getúlio Vargas a declarar guerra ao Eixo. O já citado autor, Vágner Camilo Alves comenta que se Karl Doenitz, ‘a maior liderança alemã no que diz respeito à guerra submarina no Atlântico confessa, sem maiores problemas, a responsabilidade alemã pela destruição dos navios brasileiros penso já ser momento de sepultar, definitivamente, qualquer hipótese esdrúxula atribuindo à ação militar norte-americana à responsabilidade pelas perdas navais brasileiras’.”

Detalhe interessante, ao final, é citada farta bibliografia.

Vamos então ao estudo:

http://www.europa1939.com/documentos/u507.html

quarta-feira, 20 de junho de 2007

O valoroso Arará






O Arará foi um navio construído na Inglaterra em 1907, para servir como um navio de carga. Na costa da Bahia, cerca do meio-dia, de 17 de agosto de 1942 ele foi afundado pelo U-507, no momento em que seus tripulantes salvavam as vítimas do Itagiba, que também havia sido torpedeado pelo U-507.

Quando o Arará foi torpedeado, as suas máquinas se encontravam paradas e com duas baleeiras arriadas...

Dos 35 tripulantes do Arará, salvaram-se 15 e pereceram 20 homens...

E dos náufragos do Itagiba que já se encontravam salvos a bordo do Arará (18 pessoas), uns tantos se salvaram e outros desapareceram, quando o navio cargueiro foi atingido por um torpedo...

O Arará estava sob o comando do capitão José Coelho Gomes...

Em homenagem ao cargueiro, um avião da FAB foi batizado de Arará, era um Catalina PBY-5, que se tornaria no primeiro avião brasileiro a afundar um submarino do Eixo, ao largo da costa do Rio de Janeiro em 31 de julho de 1943: era o U-199.

Conheça o contexto que produziu o criminoso ataque ao cargueiro Arará, lendo o estudo abaixo:

http://www.europa1939.com/documentos/u507.html

Um relato de um sobrevivente do ataque ao Itagiba




Um relato sobre o naufrágio do Itagiba

Pedro Paulo de Figueiredo Moreira, é ex-combatente, tendo servido o Exército brasileiro na campanha da Itália


(...)Embarcamos no dia 13 de agosto de 1942, às 13 horas, no armazém 13 do Cais do Porto do Rio de Janeiro, no navio Itagiba, com destino a Olinda, em Pernambuco. O navio conduzia 119 passageiros, entre militares, senhoras, crianças e a tripulação.
A partida de Vitória para a Bahia aconteceu no dia 15, às 16h da manhã. Até o amanhecer do dia 17, fazíamos boa viagem, sem nenhuma ocorrência anormal. Ao chegarmos a altura do farol de São Paulo, mais ou menos a 30 milhas de Salvador, às 10 horas e 50 minutos do dia 17, no momento em que estávamos almoçando, fomos surpreendidos por uma violenta explosão e o estremecimento geral do navio, o que determinou a queda de objetos que se encontravam nos camarotes, além da quebra de vidros etc. Ouvíamos: “Fomos torpedeados, vamos para as baleeiras!” Grande parte do navio ficou em destroços.

A princípio não sabíamos bem do que se tratava, mas, logo, foi constatado tratar-se de torpedeamento. Estabeleceu-se, naquele momento, pânico a bordo, correria de um lado para outro, em busca de salva-vidas e em direção às baleeiras, das quais poucas foram retiradas dos picadeiros e lançadas ao mar. Só houve uma explosão em baixo da escotilha do porão número 3, a boreste, e não se viu a unidade inimiga devido a inclinação do navio que adernava. Afundaríamos em cerca de dez minutos, enfrentando uma forte ventania e um mar muito agitado.

Quando nos esforçávamos para sair do navio, a baleeira caiu em cima do convés, encostando-se à chaminé. Gritos eram ouvidos para que os passageiros buscassem salvamento de qualquer modo, pois o navio já começava a sua inclinação vertical. Eu, particularmente, fui tomado de tremendo medo que chegou ao ponto de transformar-se em total desprendimento, pois criei coragem para lançar-me ao mar como a única alternativa de salvamento.

Ao saltar, fui puxado pela sucção das águas provocada pelo afundamento do navio, tendo sido arrastado a grande profundidade, voltando à tona, após muito esforço, segurei-me em um pedaço de madeira, a fim de descansar e adquirir forças para nadar em direção a uma das baleeiras que já se encontrava afastada do local da tragédia.

Assisti cenas que jamais pensei de presenciar na minha vida durante o tempo em que estive abraçado aos destroços do navio. Vi companheiros meus serem puxados por tubarões, dando gritos de dor e desaparecendo; outros mais fracos, perderam o juízo diante de tanta barbaridade, proferindo frases sem nexo, tais como: “Eu quero café”; “Espere minha mãe”; “Vou a pé” e desapareciam na profundeza do mar.
Após presenciar esse espetáculo desesperador, nadei em direção a uma das baleeiras.

Devido à superlotação, a baleeira tombou lançando muita gente ao mar pela segunda vez, inclusive eu. Após algumas horas de pavor e nervosismo, surge um iate, parece-me, enviado por Deus, o Aragipe, que presenciara o naufrágio do nosso navio e viera em nosso socorro, recolhendo a bordo todas as vítimas, levandonos para a cidade de Valença, na Bahia.

Nessa localidade, os feridos foram levados ao hospital e os náufragos restantes colocados em casas de família, gentilmente oferecidas pelos moradores, como também nos salões da Prefeitura.

Ao chegarmos em terra, foi imediatamente organizada a lista dos sobreviventes, notando-se a falta de onze tripulantes, inclusive o comandante. Este apareceu no dia seguinte, acompanhado de um taifeiro. Os passageiros desaparecidos, naquele momento, eram cerca de 25. Hoje, sabemos que, naquele triste naufrágio, perdemos

36 brasileiros e, naquela mesma hora, próximos a nós, mais vinte, com o torpedeamento do Arará.Após mais ou menos três dias, fomos para Salvador num navio de guerra, o cruzador Rio Grande do Sul. Chegamos a Salvador no mesmo dia e nos alojamos no Forte Barbalho, onde ficamos até seguir destino para Olinda, como previsto.

No naufrágio do navio Itagiba, destaco duas figuras realmente excepcionais: O Tenente Alípio de Andrada Serpa e o nosso soldado Walter Silero Fix. Não posso deixar passar essa oportunidade sem ressaltar o heroísmo e bravura daquele jovem oficial do nosso Exército, o valente Tenente Serpa, que soube, no momento do bárbaro e covarde atentado, portar-se como verdadeiro líder, atento e atuante, dotado de exata noção do cumprimento do dever.

No desejo de salvar a todos os seus comandados, morreu tragado pelo oceano, vítima da ação, cruel e covarde, dos nazistas. O desassombro do Tenente Alípio Serpa, brioso oficial do nosso glorioso Exército, ficou como um belo exemplo para todos os brasileiros. Eu estava correndo, transtornado, em busca de um salva-vidas, vendo-me, deu-me o seu, dizendo: “Calma seu Figueiredo, muita calma!” quando, então lhe disse: “Este é seu, Tenente. O senhor não vai deixar o navio?” Respondeu-me: “Sairei depois de todos os meus soldados, fique com o salva-vidas.” Sinto-me feliz por poder, publicamente, demonstrar minha gratidão pela sua impressionante solidariedade humana em tão trágico momento.

Não seria justo também deixar de enaltecer o nome do meu velho amigo, hoje falecido, soldado Walter Silero Fix, pelo belo gesto heróico e de amor ao próximo, salvando a menina Vera Beatriz, filha do Capitão Tito Canto, tomando-a nos braços e só a deixando em terra firme. Ele obteve o respeito e a admiração de todos com aquela atitude!(...)

FONTE: História Oral do Exército na Segunda Guerra Mundial

Leia o relato na integra no link abaixo:

http://www.anvfeb.com.br/ten_Pedro_Paulo_2.htm


Obs: O Itagiba levava na ocasião de seu naufrágio, 179 pessoas( 60 tripulantes e 119 passageiros), das quais foram assassinadas, 39.

Conheça com mais profundidade, o contexto que produziu o ataque ao Itagiba e de mais quatro navios brasileiros de navegação doméstica, em agosto de 1942, acessando o estudo abaixo:

http://www.europa1939.com/documentos/u507.html

Um relato pungente de um sobrevivente do Baependi





A Tragédia do Baependi

Artigo escrito pelo *Capitão Lauro Reis e publicado em 1948, no livro "Seleção de Seleções", uma coletânea de artigos publicados na revista "Seleções do Reader’s Digest".



Deixamos o porto de Salvador, Bahia, às sete horas da manhã, rumando para o norte. Do Rio até ali o mar tinha estado calmo. Agora se apresentava picado, espumoso, com fortes marolas, e o velho Baependi arrastava-se, moroso, balançando desagradavelmente.

O vapor ia repleto — umas trezentas e cinqüenta pessoas, incluindo a tripulação e uma unidade do Exército, cujos componentes — oficiais e soldados — iam acompanhados de suas famílias, algumas com muitas crianças.

Como esse dia — 15 de agosto — era o aniversário natalício do comissário de bordo, um excelente homem, o jantar foi festivo, a orquestra tocou animadamente e a alegria reinou a bordo até bastante tarde. Enquanto no salão se dançava, lá fora na popa, os soldados, — quase todos cariocas — montados em canhões e grandes caixas, reunidos em grupos, tocando pandeiros e batendo em latas, cantavam seus sambas à moda do morro...

Noite fechada, as luzes todas apagadas, navegávamos a umas 20 milhas da costa, quando súbito um tremendo estampido sacode violentamente o velho barco. Quebram-se as vidraças; o madeiramento range, estala, racha e, arremessados por forças invisíveis, voam estilhaços de vidro e madeira para todos os lados. Caem as primeiras vítimas, e há diversas pessoas com o rosto sangrando, devido a ferimentos provocados por fragmentos de vidro.

As máquinas param, o vapor altera o rumo abruptamente, e somos jogados pela inércia, com força, para a frente.

O primeiro instante deixa todas as pessoas imóveis de espanto, a respiração suspensa, as fisionomias pálidas e angustiadas... Não há gritos; nenhum pânico. Percebe-se em cada um o esforço mental para entender o ocorrido, para buscar uma solução, pressentindo a gravidade do terrível momento...

Estou no vestíbulo, de onde partem as escadas para o deck superior e para os camarotes de baixo. Tomado de surpresa, tenho imediata intuição do sucedido: fomos torpedeados ! Logo a seguir, ouço o apito surdo do navio, pedindo socorro... O Baependi começa a adernar.

Corro ao meu camarote ali perto, empurro a porta, que felizmente não ficou emperrada, apanho rápido o meu salva-vidas, e saio.

Há muitas pessoas no vestíbulo; umas, principalmente mulheres e crianças, paradas, como se esperassem que uma providência alheia as salvasse; outras caminhando febrilmente, na direção em que julgam poder encontrar salvamento. O navio aderna mais e mais; só podemos andar, agora, agarrados às paredes.

Alguns descem com dificuldade as escadas para os camarotes inferiores, em busca de salva-vidas, ou para se reunir às suas famílias; infelizmente, para não voltarem mais... Ficarão na companhia dos que nem sequer conseguiram sair dali.

Vejo tudo isso de relance e, ainda enfiando o cinto salva-vidas, subo a escada para o deck de cima, em busca da minha baleeira; agarrado ao corrimão, chocando-me com pessoas que descem, aturdidas, estou quase no alto, quando um segundo torpedo explode, abalando fragorosamente todo o navio. O corrimão, ao qual me agarrava, fica feito em frangalhos, e rolo na escada, de costas, aos trambolhões, até a porta do refeitório, de onde saíra. Entre o primeiro e o segundo torpedos, não decorreram mais de trinta segundos.

As luzes se apagam; esbarramos uns nos outros, desorientados, no meio de profunda escuridão. O navio aderna consideravelmente, já sendo impossível, agora, andar de pé.

O segundo torpedo foi o tiro de misericórdia. O Baependi agoniza... Percebo que o afundamento vai ser rápido. Esforço-me por sair do interior. Um cheiro sufocante e enjoativo, proveniente da explosão, invade tudo.

Tateando, com grande esforço consigo agarrar-me à escada e, de restos, segurando-me nas saliências, vou subindo devagar.

Na escuridão, apenas distingo, numa pequena claridade vinda de fora, o contorno de uma porta, ao fim da escada que tento subir. É preciso atingí-la a todo custo, porque senão eu afundarei dentro do navio. Mais um esforço e consigo chegar.

O navio, nesse momento, está quase de lado: o que era parede passou a ser chão. Atravesso aquela porta com os movimentos de quem, pela abertura do teto, passa para o forro de uma casa.

Alcanço a baleeira em frente à porta. Presa aos turcos, num emaranhado de cordas, alguns marinheiros tentam soltá-la. Não trocamos palavra. Começo a ajudá-los, procurando desvencilhar cordas, febrilmente.

Mas é inútil: o Baependi continua a afundar-se vertiginosamente ! As ondas revoltas quase nos atingem e ouço, bem perto, os gritos pungentes dos que já lutam com elas.

Compreendo, então, que devo atirar-me imediatamente ao mar, para não ser arrastado pelo turbilhão que faria a massa do navio ao submergir. Mas já é tarde demais, porque, estando ele quase horizontal, se eu der um salto, cairei, conforme o lado, sobre o casco ou sobre o convés. Ouço ainda o apito tenebroso do vapor, um apito surdo e contínuo, agonizante, de estertor.

As águas me envolvem violentamente, jogando-me de encontro a uma parede. Depois... sinto que mergulhamos, arrastados pelo navio.

Penso, conformado, na morte: deste mergulho não voltarei, certamente ! Não perco o raciocínio, nem me deixo dominar pelo desespero. Antes me conservo calmo, resignado, enfrentando o desfecho da vida. Continuo a merguIhar, a mergulhar... Quantos metros ? Nem sei ! Sinto nos ouvidos o barulho forte e característico das bolhas de ar, numa escala cromática extravagante, que vai num crescendo do grave para o agudo, à proporção que me aprofundo nas águas... A falta de ar já me tortura; começo a engolir água...

Súbito, porém, paro de mergulhar, e percebo que vou voltando. Mas sou, então, violentamente imprensado entre dois volumosos fardos, e tenho a sensação de que vou ficar esmagado. Inexplicavelmente, não sinto nenhuma dor. Por felicidade, fico de novo livre, e continuo a voltar, aos trancos, à superfície, recebendo pancadas pelo corpo, agora mais rápido — cada vez mais rápido — até que, de repente, dou um salto, saindo-me fora d'água o tronco todo, tal o empuxo.

O navio está completamente submerso. Imagino que não deve ter levado a afundar-se mais de três ou quatro minutos, tornando impossível qualquer providência de salvamento, ou a descida de qualquer das baleeiras.

O mar, violentíssimo, encapelado, está coberto de destroços e, não sei como, ainda caem paus de todos os lados, como estilhaços.

Ouço gritos terríveis, angustiosos, de socorro, e vejo homens, mulheres e crianças se afogando em torno de mim.

Nado um pouco e me agarro a uns paus que flutuam, e que as fortes ondas me arrancam logo das mãos; imediatamente me seguro noutros, mas também não consigo sustê-los, e fico nesse jogo, pulando de uma tábua para outra, durante algum tempo.

Reparo que há sobre as águas duas luzes avermelhadas, como archotes, a iluminar aquela cena macabra: são bóias de iluminação, que se acendem automaticamente, ao contato com a água.

O mar limita-me a visão, e só quando me elevo numa onda melhora o meu horizonte. Em dado momento, avisto com surpresa um projetor lançando seu feixe luminoso sobre o local do sinistro: firmo o olhar e diviso, iluminado pelas luzes que dançam na água, o perfil do submarino assassino, bem próximo de nós, contemplando os resultados da sua bárbara missão ! Em seguida, perco-o de vista...

Estou agora junto de uma grande tábua branca, com aberturas que me parecem janelas: consigo com facilidade deitar-me nela, de bruços, e me sinto mais bem acomodado. Pelo menos descanso um pouco. Mas me agarro com todas as forças, para que as ondas não me arranquem dali.

Perto de mim, alguém grita em desespero, já quase a perder o fôlego:

— Não posso mais, vou desistir...

Animo o companheiro, chamando-o para junto de mim, e isso me dá mais animo! Ele se aproxima, e com algum esforço se agarra à minha tábua: vem ofegante, exausto. Trocamos algumas palavras. É um tripulante do Baependi.

As ondas violentas e o forte vento começam agora a espalhar náufragos e destroços; os gritos dispersos de socorro chegam cada vez de mais longe. Somos também impelidos para longe do local do sinistro, arrastados naquela tábua, em rumo desconhecido.

Conjugando nossos esforços, examinamos o mar em todas as direções. Nada ! Provavelmente nenhuma baleeira pôde ser lançada ao mar. Nossa salvação é provisória, sem dúvida... E ficamos vogando ao sabor das ondas por um tempo difícil de estimar: talvez meia hora, uma hora... Ouvem-se agora menos gritos de socorro: a maioria sucumbiu, desesperada !

Mas, repentinamente, divisamos uma silhueta que não é de um destroço, passando defronte das bóias de iluminação, já bem longe. Parece-nos uma baleeira... Dentro, um vulto, de pé... Não resta dúvida, é uma baleeira ! Mas está muito distante. Para alcançá-la, teríamos que nadar contra o vento e as ondas e, cansados como estamos, isso não nos parece empresa fácil.

Começamos então a gritar, com todas as forças dos nossos pulmões. Grito, grito ! Lembro-me de gritar meu nome, e o faço diversas vezes. Lembrança talvez salvadora: ouvimos, pouco depois, uma resposta que nos pareceu "espera"... Graças a Deus, tinham-nos ouvido, e remam em nossa direção ! Foi o primeiro alento, a primeira sensação de poder sair com vida daquela pavorosa catástrofe.

A baleeira se aproxima. Abandonando a benfazeja tábua, damos umas braçadas, lançam-nos uma bóia presa a uma corda, e somos içados para bordo, onde encontro dois tenentes, dois sargentos e três soldados, da minha unidade. Abraçamo-nos, comovidos, mas poucas palavras trocamos. Pensamos na sorte dos outros camaradas, e não nos conformamos com a idéia de que somos os únicos sobreviventes.

É talvez esta a única baleeira que escapou ao desastre, arrancada dos turcos pela violência da explosão.

Recolhidos mais alguns náufragos, somos ao todo vinte e oito. Entre eles, há uma moça que, mal explodiu o torpedo, lançou-se resolutamente ao mar, nadando, agarrada a um pequeno destroço, durante mais de uma hora!

Mas em que direção ficará a costa ? Não podemos orientar-nos com segurança, pois mal se vêem as estrelas, e a escuridão impede-nos de consultar a única bússola, que corria de mão em mão, inutilmente.

Mas entre os náufragos está, felizmente, o piloto do Baependi. Recobrando as forças, ele resolve com simplicidade o problema da navegação, mandando "remar na direção do vento, pois o mesmo soprava para terra".

Somente na baleeira noto que estou ferido. O sangue jorra abundantemente do meu rosto, e, levando a mão à face direita, percebo que sofri uma fratura. Mas não sinto nenhuma dor.

A pequena embarcação joga como uma casca de noz naquele mar agitado e de vez em quando uma onda mais forte invade-a; um grande rombo da proa aumenta a nossa inquietação; é preciso baldear continuamente a água, tal a quantidade que entra.

O vento é cortante, sentimos um frio tremendo, uma sede desoladora, e o enjôo apodera-se da maioria.

Pouco depois avistamos, não muito longe, um navio iluminado. Ficamos hesitantes: valerá a pena remar na sua direção ? Alcançá-lo-emos ? Desistimos da idéia, o que foi providencial, pois cerca de uma hora depois, ouvimos o eco de uma tremenda explosão, que nos pareceu um trovão longínquo: o navio que passara por nós — o Araraquara, soubemos depois — fora também torpedeado !

Navegamos assim, impelidos pelo vento e pelos remos, durante toda a noite — que nos parece interminável. Os rapazes, incansáveis, se revezam nos remos e os outros no balde de água.

Ao clarear o dia, ainda na penumbra, temos uma explosão de contentamento: a uns dois quilômetros de nós, percebemos a faixa branca de areia de uma praia ! Mais umas remadas, a manobra para vencer a forte arrebentação, e eis-nos em terra firme. Nossos corações pulam de alegria !

A praia, desabitada, é formada por vastas dunas de areia, onde os pés se enterram, agravando nosso cansaço. Caminhamos algum tempo, seguindo uma pequena trilha, até avistarmos uma cabana onde apenas encontramos água.

Felizmente, indicam-nos uma picada que vai ter a uma povoação. Andamos até o meio-dia, ou antes, arrastamo-nos, pois há diversas pessoas feridas, e outras esgotadas. Por sorte encontramos muitos coco-da-baía, cuja água saborosa bebemos sofregamente.

Ao chegarmos à povoação, todas as portas e janelas se batem, violentamente ! "Que teria havido ?" Consultamo-nos, surpresos... Estamos tão embrutecidos, que nos custa a compreender: a nossa nudez quase total ofendeu o pudor da gente da terra ! Um parlamentar, que enviamos em trajes mais decentes, resolve a situação, e recebemos algumas roupas usadas, que nos permitem improvisar tangas.

Depois de alimentados, seguimos de canoa para Estância, no Estado de Sergipe, termo das nossas provações. Ali soubemos, mais tarde, terem chegado à praia, numa pequena balsa de madeira, mais oito náufragos do Baependi. Trinta e seis sobreviventes — eis o que restava !

Quase todos os nossos camaradas tinham sido tragados pelas ondas. E quando um médico, náufrago também, nos relatou o episódio da morte do mais jovem dos nossos companheiros de armas, não pudemos conter as lágrimas. Ao atirar-se ao mar, sem salva-vidas, certo do fim que o aguardava, o Tenente Assunção lançara em voz vibrante este grito derradeiro de patriotismo:

— "Viva o Brasil!"



*O Capitão Lauro Moutinho dos Reis, oficial de artilharia do Exército Brasileiro, fazia parte de uma unidade(7º GAdo) que viajava no Baependi para o Nordeste, quando na noite de 15 de agosto de 1942, o navio do Lóide brasileiro foi atingido por dois torpedos na altura da fronteira entre Bahia e Sergipe, fato que, ao lado dos outros quatro torpedeamentos efetuado pelo U-507, suscitou a onda de revolta nacional que levou o Brasil entrar efetivamente na Segunda Guerra contra as potências do Eixo.
Das 323 pessoas que estavam a bordo do Baependi, apenas se salvaram 18 passageiro e 18 tripulantes. Conheça com mais profundidade o contexto que produziu a tragédia do Baependi e de outros ataques efetuados pelo U-507 em agosto de 1942, acessando o estudo abaixo:

http://www.europa1939.com/documentos/u507.html